Relato feito pelo Mário Araújo, um dos 4 aventureiros que se lançaram nesta viagem.
A nível de foto e vídeo o grupo saiu com tarefas bem definidas. O Jorge, Ivo e Oliveira levaram câmaras de filmar, enquanto eu fui o fotógrafo de serviço na maior parte do tempo.
O resultado foram mais de 800 fotos e muitos Gb´s de vídeos, que têm vindo a ser editados (tarefa árdua) pelo Jorge, e que, com o jeito que ele tem para isso, tudo aponta para se tornar um êxito de bilheteira.. na TV das nossas casas..claro!
Nada de avarias, e apenas um fusível substituído.
Quanto ao físico, algum cansaço acumulado a meio da viagem e à medida que as pistas se tornavam mais difíceis.
Algumas quedas sem importância, e apenas uma nas dunas de Erg Chebbi provocou uma lesão no meu braço direito, que dificultou a minha progressão nos dias seguintes.
Valeu o “Voltaréne” e alguma paciência dos companheiros de viagem nas alturas em que não aguentava mais e os obrigava a pequenas pausas para recompor corpo e mente.
Sobre Marrocos, talvez as fotos mostrem aquilo que é difícil explicar por palavras.
O que não podem sentir aqui são os cheiros daquela terra, a cultura e vivência daquelas gentes. Para isso têm que partir, levar espírito aberto, alguns dirhams no bolso e uma Trail de preferência!!
Sem demora seguimos para Chechaouen, mas de noite e com estrada manhosa todo o cuidado é pouco.
A dormida estava marcada para o Aubergue Caiat, situado na estrada que termina no Oued Laou, um dos pontos de entrada do Parque Natural de Talassemtanee. O dono é Português, e tiramos o chapéu ao que ele criou naquele espaço, um excelente albergue de montanha, a preços acessíveis e com umas paisagens..
Dia 2: Aubergue Caiat > Ouezzane > Fés > Ifrane > Azrou
Só de manhã vimos o que nos rodeava..
com paisagens assim não apetece nada sair dali
algumas dicas sobre o caminho a seguir
e primeira paragem aqui para relaxar (ja tinhamos rolado uns 20 kms… <img src=”{SMILIES_PATH}/cool.gif” alt=”” title=”cool” /> )
Chá de menta a ver Chechaouen
Na estrada para Fés
A passagem por Ifrane foi engraçada. Situada a 1.600 mts de altitude, imaginem que vêm numa estrada manhosa, já de noite e de repente o alcatrão fica liso como uma folha de papel, a estrada está sinalizada, começam a aparecer postes de iluminação, etc..
1 km à frente parece que estão a entrar no Mónaco.. tudo iluminado, bons carros, policias vestidos com fardas brancas, fontes luminosas, jardins, e as casas são tipicamente europeias, muito idênticas ás que se podem encontrar nas vilas alpinas da Suíça… Parece que viajamos no tempo e estamos noutro pais!
http://ifranecity.freehostia.com/
2 ou 3 voltas depois, lá encontramos uma razão de ser de tudo aquilo. Um dos Palácios Reais está ali situado, mesmo à saída da cidade..
A seguir volta tudo ao mesmo, e seguimos caminho a pensar que este é um dos melhores exemplos dos contrastes que Marrocos tem para oferecer.
Chegada a Azrou, onde ficamos no Hotel Panorama, bem referenciado por outros viajantes que por ali passaram.
Saímos bem cedo rumo a Sul, onde temos areia.. muita!!
Os Berliet ainda circulam por aqui
Rectas de perder o olhar..
Uma pausa para esticar as pernas
Durante 10 kms é assim, só palmeiras..
Em Erfoud não conseguimos seguir na estrada para Merzouga. Devido ás chuvas dos dias anteriores algumas estradas estavam assim
A solução foi seguir por Rissani
Para pouco depois vermos uma das razões da nossa viagem
Ficamos no Albergue Ali El Cojo
com saída directa para o recreio..
Zorza em grande
O gajo da bicla só se ria..
Olhem só para a cara de felicidade do artista
Aqui parece que o tempo pára..
Fantásticos estes momentos..
De volta ao Albergue para uma salada marroquina
e relaxamos ao som de musica berbere, e à conversa com os locais sobre caminhos a seguir no dia seguinte
Descobrimos ainda que um homem honrado leva as suas dividas para todo o lado! De preferência no saco de deposito…não é Ivo?
Estamos a meio da viagem e este dia previa-se calmo, e com poucos kms…pelo menos para 1 de nós..já vão saber porquê 😉
Primeiro tentaríamos chegar perto de Achouria, onde se encontra um conjunto de 3 monumentos criados na década de 80 por Hannesjörg Voth.
Situados em pleno deserto, impressionam pela localização e dificuldade em serem alcançados..
A 1ª foto à entrada da pista de cerca de 30 kms, que em condições normais nos levaria a conhecer a Stadt des Orion, a Goldene Spirale, e por fim as Himmelstreppe.
Aqui parece fácil, mas confirmamos que afinal o fes fes é mesmo como dizem..
uma espécie de areia muito fina, que misturado com terra e água, formam uma espécie de argila que tornou impossível o avanço das motos com o peso que transportávamos..
Podem ver também essas pequenas crateras, que abundam na zona e que são as khetteras, uma espécie de canais de água subterrâneos que desviam água dos rios para as zonas mais áridas.
Portanto tudo muito pantanoso..
Ao fundo com o zoom no máximo, podem ver as Himmelstreppe (Escada Celestial)
Ainda tentamos “entrar pela saída” e com algum esforço..
desistimos ao ver apenas um dos rios que teríamos que atravessar.
Se o fundo fosse pedra e não lama..
Fica para a próxima
Seguimos para Tinerhir, com o Oliveira a desfrutar ao máximo a sua Tenere
O mesmo Oliveira que nos iria pregar um valente susto mais à frente.
Assim que chegamos a Ba Touroug começamos a ultrapassar carros, jipes, auto caravanas, camiões, todos parados na berma da estrada.
Era certo que a estrada estava cortada, mas decidimos avançar e ver o que se passava.
A ponte estava submersa e apenas algumas pessoas a atravessavam a pé com água acima dos joelhos, mas a corrente era muito forte e alguns faziam-no com dificuldades.
Ponte nem vê-la, os carros não se arriscavam, e enquanto alguns marroquinos nos tentavam convencer a atravessar com a moto desligada e apoiada por 2 ou 3 de cada lado…o Oliveira passa por nós e lá vai ele
A meio da ponte já ele está muito próximo da berma, e não sabemos como, mas chegou ao outro lado com tudo no lugar..
e quando vir o filme..aposto que vai a Fátima a pé…Ida e volta!!
O resto do grupo decidiu não arriscar e a única solução era voltar a Errachidia e fazer a N10 que nos levaria até Tinerhir, volta com +/- 200 kms
Durante o caminho ainda fizemos alguns amigos
E mais à frente o almoço
Os almoços foram todos à base de comida desidratada. É barato, leve e basta água quente para 5 minutos depois termos o que é preciso para reconfortar o estômago.
Esparguete à bolonhesa, Caril de frango, Minestrone Vegetariano, é só escolher!!
Aposta ganha, sem dúvida! 😉
Procuramos alternativas
E seguimos em direcção à N10
E quando lá estamos é difícil ficarmos indiferentes..
São rectas intermináveis
onde seguimos bem acompanhados
e onde assistimos a um pôr do sol simplesmente…
chegada a Tinerhir
já o Oliveira estava no Tomboctou
Ivo
Jantarinho numa sala toda pipi
onde brindamos à Amizade
fizemos mais um novo amigo
e não sei se foi da Lua
ou do chá de menta…mas a parvalheira tomou conta de nós!!
Tempo ainda para mudar um fusível…e reparem na concentração do artista…imaginem se fossem…sei lá…2 fusiveis!!
O sol já espreitava e nós com um longo dia pela frente.
O destino era Ouarzazate, mas primeiro subiríamos até Agoudal, a aldeia mais alta de Marrocos.
Mas primeiro uma referência ao Hotel Tomboctou. Situado no centro de Tinerhir, oferece excelentes condições tendo em conta o preço. Cerca de 20 € por pessoa, com jantar, dormida, peq. almoço e garagem.
O centro da cidade
Policia um pouco por todo o lado, embora bastante mais atentos aos locais do que aos estrangeiros
O taxi oficial de marrocos, são às centenas nas nacionais e transportam tudo o que possam imaginar
Muitas placas têm as indicações tapadas. Assim obrigam o turista a pedir informações em troco de alguns dirhams..
Marroquino é f#*$&o (fresco.. queria eu dizer)
Um mapa resolve, mas não deixa de ser curioso
É difícil progredir com paisagens assim..
A entrada para as Gargantas
uma nova forma de viajar.. Hotel Rolante! 20 caramelos cabem lá dentro!
Ó amigo, como é que estão as coisas lá para cima, muita água
Siga que se faz tarde..
Cabras trepadeiras
Aqui começa a subida para Agoudal
Falta o Ivo
Cá está ele! Assistir a um dialogo do Ivo com um marroquino é qualquer coisa de irreal!
Fantástico!
Algures ali no meio está um de nós
A foto do dia a 3.000 mts de altitude
Agoudal
Paragem para almoçar no único auberge da vila
O dono, de nacionalidade francesa, diz que não quer outra coisa
Couscous c/lentilhas e Omelete berbere
A subida aos lagos não foi possível. Não tínhamos tempo porque a dormida no Bikers Home em Ouarzazate estava marcada e não sabíamos que tipo de pista iríamos fazer.
Daqui para a frente vou escrever pouco, porque acho que as fotos dizem tudo.
Digo apenas que, quem pensa viajar por aqui é OBRIGATÓRIO fazer esta pista!
Ambiente sempre animado
O final é bem rápido..mas sem olhar muito para o lado esquerdo
O novo corte do Ivo
Depois foi assim até à Bikers Home em Ouarzazate
A dormida em Ouarzazate foi na Bikers Home, que não é mais do que a casa de Peter e sua esposa Zineb.
A casa está adaptada para receber viajantes, com quartos para alugar, garagem e oficina caso seja preciso fazer alguma reparação. Funciona como um off-road center, onde é possível alugar motos e seguir com o Peter para o Deserto numa das muitas viagens que organiza. O mais importante é o ambiente familiar, a simpatia com que somos recebidos e as palavras da Zineb… Hei guys! Would you like some cold beer!! …
Conhecemos 2 Noruegueses que faziam da casa o seu centro de operações para as aventuras por Marrocos, mas que na ultima semana era mais um centro de tratamento de intoxicações alimentares..
Um deles estava mesmo mal, e de 10 em 10 min lá ia ele enviar um fax para Noruega..
Disse que comeu uma carne numa aldeia remota do Atlas, e logo percebeu que algo não estava bem.
Ainda deixamos lá uns Ultra Levure porque o stock estava a acabar..
O outro estava em pulgas para dar gás na ktm 990, e nós porque somos rapazes simpáticos… e queríamos ouvir o ronco dos Akrapovic da austríaca.. convidamos o homem para nos acompanhar até Marrakech..
4 ou 5 segundos depois já ele estava junto à sua ktm..que afinal não roncava tanto assim…
Explicou-nos que a moto a baixa velocidade, aquecia demais, engasgava e desligava-se..
Em estrada aberta era pacifico..rolava ás mil maravilhas..
😕 😕
Portanto..nós..portugas simpáticos..adivinhávamos um dia longo…
Curiosos eram também os 2 jerrycan de 10 lts que foram adaptados aos ferros de protecção do motor..
Achamos aquilo no mínimo perigoso, e logo a imaginar o que poderia acontecer em caso de queda…
A caminho de Ait BenHaddou
Ecla Studios
Variedade é coisa que não falta! Big Trails para todos os gostos e feitios.. 😉
A Ktm ainda com todo o fôlego
Depois de uns largos kms de pista, encontramos perdido no meio do nada, o cenário da prisão do filme
“O Gladiador”
Entramos para perceber a dimensão e o modo como se constroem estes cenários.
Mariobelix
Um pouco ao lado a casa do zelador
É mesmo esta a sua casa, abriu-nos a porta com orgulho e com um enorme sorriso nos lábios!
Faz bem ver e pensar nisto…
Chegada a Ait BenHaddou
Ait BenHaddou é uma povoacão fortificada construida em tijolo de terra, classificada em 1987 pela UNESCO como Património da Humanidade. Lindo!!
Sitio para voltar e visitar com mais tempo..
Seguimos viagem
E quando a coisa começou a ficar difícil a Ktm começou a soluçar…
Até que o melhor foi parar para almoçar e arrefecer a máquina..
Mesa posta
E o amigo laranjinha a dar-lhe forte..
Depois as coisas complicaram-se um pouco. A pista ficou mais lenta e dura, a Ktm estava pior, até que chegamos a uma subida com um gancho à direita..
Estranhamos os jipes parados antes da subida e alguns dos passageiros subiam a pé.
Começamos a subir
mas pouco depois parecia impossível fazer aquilo! Muita pedra solta, pouca tracção, e nós parados completamente exaustos!
O primeiro foi o homem da Ktm, acenando, e que parecia dizer que a burra tinha morrido..logo ali..
Por muitas fotos que coloque aqui, não consigo mostrar a dureza que foi subir aquilo.
Do meu braço é melhor nem dizer nada, já nem dores sentia..
Já lá em cima temos uma perspectiva melhor..
A ktm ainda a meio..e o dono a chorar os 25.000€ que deu por ela..(sim..na Noruega custa isso..)
A ktm morreu mesmo, não se aguentava nas 1000 rpm…ele estava em consonância com a moto..
Os camelos pareciam rir-se da situação..
Mas como estamos em Marrocos, mesmo no meio do nada aparece sempre alguém pronto a ajudar!
Enquanto uns entram em negociações para conseguir uma pickup que levasse a ktm de volta a Ouarzazate..
Outros apreciam a paisagem
2 horas depois.. a despedida, e o nosso amigo norueguês parecia olhar fixamente para este burro..
Fiquei a pensar se ele nos queria acompanhar em cima dele…ou se teria sido melhor fazer aquela subida em cima do simpático quadrúpede..
Seguimos por caminhos um pouco melhores
mas sempre rodeados de paisagens fantásticas!
Algures por aqui, ainda houve tempo para um episódio com um cavalo..mas só existe vídeo.
Digamos apenas que quando nos cruzamos com animais todo o cuidado é pouco..
o resto é um marroquino pelo ar..mas felizmente sem consequências para ninguém..
Quem nos conhece sabe que até gostamos de terra, lama, areia, etc..
Mas no final deste dia foi assim quando vimos o alcatrão!! É verdade! Não há que ter vergonha..
A caminho da nacional que nos levaria até Marrakech
E cá está ela
Chegada já de noite e nós com pouca paciência para o transito infernal de Marrakesh.
Apontamos o gps para o primeiro Ibis e com sorte lá conseguimos quarto!
E para terminar, claro que o jantar foi na Praça Jemaa El-Fna, no restaurante nº 1 da D. Aicha.
A famosa Praça
Amanhece em Marrakech e olhar pela janela lembra regras fundamentais entre nós!
Humanos com cheiros identificáveis…dentro do quarto!
Objectos que emanam cheiros não identificáveis..fora do quarto!
A nossa viagem está mesmo a terminar, e os dois últimos dias são os mais aborrecidos que a malta tem para fazer.
Existe porém uma mistura de sentimentos, porque vamos para casa, palavra que nos de lembra saudade, tranquilidade e descanso.
Mas nem todos os tapetes negros, lisos e listados de branco, são aborrecidos!
Existe um, que nos liga de Marrakech a Tânger, que é um misto de medo, divertimento, admiração..e de muitos
What the f***?? durante esses 600 kms..
Nas auto-estradas marroquinas encontramos…ovelhas, pastores, todo o tipo de transporte com rodas (uma, duas, três, quatro, seis, ou mais), malta a fazer jogging, muita policia, pouca policia, etc..
Isto, em ambas as faixas de rodagem e também no verde do separador central…portanto tudo muito animado! 😉
Abastecer enquanto é mais barato!
“Rodage” Em Marrocos não se recicla..usa-se até desaparecer!
E depois da aventura que é entrar em Tânger ao final da tarde..alguém chamou para o ferry!
Olha que limpinhas que elas estão!
Até à proxima!!
Mais galhofa!
e uma chamadinha para Portugal!
Dia 8: Tarifa > Porto
Dormida já com preços Europeus, no Hotel Dulce Nombre, à saída de Tarifa
E rumo ao Porto, assim do nada…alguém disse: Não será melhor vestir os fatos de chuva? Parece que vai chover..
..1 ou 2 kms depois já debaixo de um verdadeiro diluvio…penso para mim: Mas como é que aquele gajo sabe??..
É por estas e por muitas outras razões, que é um autentico privilégio poder viajar e ter amigos assim..
Espero que tenham gostado, e que no mínimo fiquem com vontade de sair e explorar Marrocos.
Esta crónica não é nossa, é vossa!
Foi com essa intenção que a escrevi aqui, e não ficou apenas na nossa memória.
Dispam-se de preconceitos e seja de Scooter, Vstrom, ou Goldwing, partam à aventura e não se arrependam mais tarde daquilo que não fizeram.
Como diz o nosso amigo Ivo: A adrenalina é mais forte que a vontade!!
Obrigado pelas vossas palavras.
Abraços dos 4
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